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ÉTICA EM SOCRATES- VIDA E MORTE


“Conhecer a ti mesmo”. Esta é uma afirmação da maturidade filosófica de Sócrates desde seu encontro com oráculo de Delfos. Tal conceito mudaria totalmente a vida e a maneira de fazer filosofia na Grécia; pois Sócrates deixando a linhas dos naturalistas na busca de algo a mais se concentra definitivamente os seus interesses na problemática do homem. Sobre esta problemática os conceitos os mais variados se aforam inclusive o de “Vida e Morte”. A tentativa de entender os conceitos “Vida e Morte” se faz necessário conceituar como Sócrates via o homem. Giovanni Realle enfatiza a seguinte visão antropológica de Sócrates; “O homem é a sua alma: enquanto é precisamente a sua alma que o distingue especificamente de qualquer coisa. E por alma Sócrates entende a nossa razão e a nossa atividade de pensante e eticamente operante “.
A alma segundo que subentende para Sócrates é o consciente, ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Uma vez descoberto que o homem é sua alma; a mesma se torna a parte principal a qual o homem deve cuidar com grande rigor, para que o homem possa conhecer a ti mesmo. É evidente que, se a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo significa cuidar da própria alma mais do que do corpo. E ensinar os homens cuidarem da própria alma é a tarefa suprema do educador, precisamente a tarefa de Sócrates considera ter recebido do oráculo como se lê na apologia: “ Que é Isto (...) é a ordem do oráculo. Estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade do que esta obediência ao oráculo. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós jovens e velhos. De que não deveis cuidar apenas do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes a mais do que da alma, de modo que ela se torne ótima e virtuosíssima e de que não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude que nasce a riqueza e todas as outras coisas que são bens para os homens, tanto individualmente para os cidadãos como para o Estado.
De acordo com Giovanni Reale para Sócrates, é da virtude que nasce a riqueza e todas as outras coisas que são boas para o homem. Dentro de uma abordagem conceitual; para Sócrates a vida só pode ser definida e verdadeiramente vivida através da virtude. Em grego, aquilo que chamamos de virtude se diz Arete, significa aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é, ou melhor, ainda significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo ser aquilo que deve ser . Segundo Giovanni Reale para Sócrates a virtude pode ser definida da seguinte maneira“ Conseqüentemente, a virtude do homem outra não pode ser se não aquilo que faz com que a alma seja tal como sua natureza determina que seja, ou seja boa e perfeita” .
Sobre este conceito subjuga-se que o oposto da virtude seria então a não-virtude que conseqüentemente seria identificado como algo ruim e imperfeito. Todavia sendo este algo ruim e conseqüentemente imperfeito seria explicado etimologicamente através do conceito “vicio”. O conceito de vicio por sua vez seria a privação do homem sobre a ciência ou conhecimento, vale dizer a ignorância. O homem sem a virtude seria então conseqüentemente ignorante, o qual desprovido do conhecimento da alma e de sua essência conceituaria os valores externos como certo. Sobre estes valores Reale relata que: Os verdadeiros valores não são aquele ligado ás coisas exteriores como riqueza, poder, fama e tampouco os ligados ao corpo, como a vida, o vigor a saúde física e a beleza, mas somente os valores da alma que se resumem os conhecimentos. “Naturalmente, isso não significa que todos os valores tradicionais torna-se desse modo “desvalores” significa simplesmente, que “em si mesmos, não têm valor” . Eles só se tornam ou não valores se forem usados como “conhecimentos” exigem, ou seja, em função da alma e de sua “Arete”.

Diante de tal definição, subjuga-se que a morte para Sócrates seria supostamente viver uma vida na ignorância, longe de uma natureza boa e perfeita; fazendo de valores externos a essência da vida. Em relação a esta suposta conceituação do conceito de morte para Sócrates a uma possibilidade de compreender a decisão de Sócrates em ficar tranqüilo diante da sentença de morte no texto da apologia. Visto que uma vez que Sócrates se declara culpado e renunciasse e retrata-se pedindo clemência; mesmo sabendo que esse seria a única possibilidade de permanecer vivo; Sócrates não exitou a isso, por saber que a o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre a virtude e argumentando sobre o raciocinar, examinando a si mesmo e aos outros, e, que uma vida sem esse exame não é digna de ser vivida.
A morte seria o melhor caminho, um a vês subentendido que a verdadeira morte para Sócrates consiste em viver uma vida longe da virtude conseqüentemente sem honra, por isso Sócrates afirma “Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morrer” .
O conceito de virtude como base para a vida, pode ser fortalecido com outro conceito o qual ajudaria a definir o conceito de vida e morte para Sócrates. Entende-se que através do conceito autodomínio; que seria uma capacidade que homem tem de manter o controle sobre si mesmo e do prazer, da dor e das paixões, coisas que o homem ignorante (não-vituoso) não as vê como vícios. Autodomínio, ou seja, do domínio de si mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço, no vigor das paixões e dos impulsos: “Considerado o autodomínio como base da virtude, cada homem deveria procurar tê-lo”. Substancialmente, o autodomínio significa domínio de sua racionalidade sobre a sua própria animalidade, significa tornar a alma senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. Conseqüentemente, pode-se compreender perfeitamente que Sócrates tenha identificado expressamente a liberdade com esse domínio da racionalidade sobre a animalidade. O verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar os seus instintos, o verdadeiro homem escravo é aquele que não sabendo dominar seus instintos, torna-se vítima deles.
Dado esta autonomia que o homem pode alcançar através da racionalidade; o verdadeiro homem livre (vida) como afirma Reale é aquele que sabe dominar seus instintos ao passo que homem escravo seria aquele que não sabe dominar seus instintos (morte) deixando ser dominados por eles. Portanto pode conceituar que a vida para Sócrates seria a realização de uma existência liberta da ignorância; visto que não há lógica para Sócrates viver uma vida dominada pelos instituis; pois os que assim os fazem são escravos, o que mostra que não há possibilidade de viver a vida como escravo, mas apenas o homem livre através da virtude e do auto domínio poderá viver a verdadeira vida.
Finalizando, como já foi enfatizado, Sócrates identifica que a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo significa cuidar da própria alma. E ensinar os homens a cuidarem da própria alma é a tarefa suprema do educador, precisamente a tarefa de Sócrates considera ter recebido do oráculo. Para Sócrates o método para educar a alma do homem e fazê-lo deixar a vida de ignorância ( morte) para viver a vida virtuosa, seria a “maiêutico” onde Sócrates levava o intelecutor a reconhecer a sua própria ignorância. Através da maiêutica simplesmente pergunta; não ensina; quer aprender. Seu pensamento parece desprovido de conteúdo. Se, porém não há, ensinamentos ele propõe algo. Destruindo as respostas fáceis dos intelecutores mostra que o pensamento deve ser mais prudente. Se as respostas saem fácil é porque as pergunta foram mal formulada, e apenas contorna o problema.
O que Sócrates faz é formular perguntas, adequadas, isto é, um método de investigação que encaminhe o pensamento em direção à essência das coisas sem desvios; a maiêutica pode ser definida: Primeiro ele (Sócrates) forçava uma definição do assunto sobre o qual se centrava investigação; depois, escavava de vários modos a definição fornecida, explicativa e destacava as carências e contradições que implicava; então, exortava o interlocutor a tentar uma nova definição, criticando-a e refutando-a com os mesmo procedimentos; e assim continuava procedendo, até o momento em que o intelecutor se declarava ignorante (... Mas, da mesma forma que a mulher que está grávida no corpo tem necessidade da parteira para dar à luz, também o discípulo que tem a alma grávida de verdade tem necessidade de uma espécie de arte abstétrica espiritual que ajude essa verdade a vir à luz – e nisso consiste exatamente a maiêutica socrática.

Deste processo da maiêutica surge à virtude, conhecê-la torna-se, principal objetivo do verdadeiro conhecimento, só pratica o mal quem ignora o que se seja a virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir bem. Desde modo o conhecimento e a virtude tornam-se sinôminos. Através da maiêutica Socrática as questões morais deixam de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes as quais se modificam conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, Sócrates seria o fundador a ética.